quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Entrevista: Projeto de Mobiliário Popular Traz Oportunidade para Moveleiras





Segue uma entrevista feita com o presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Rafael Greca, onde aborda um tema-conceito bastante pertinente e inovador no que diz respeito à mobiliário popular e à política que está sendo adotada pelas indústrias do Paraná.

Por Dayane Albuquerque :

“Em fevereiro de 2008, a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), lançou durante o 2º Seminário Oportunidades para a Indústria Moveleira, em Curitiba/PR, o Projeto de Mobiliário Popular, que consiste em criar, junto a indústrias moveleiras, uma linha de produção e financiamento de móveis para moradias populares, com medidas adequadas aos tamanhos das casas construídas pela Companhia. A idéia é uma oportunidade para as indústrias moveleiras desenvolverem outro nicho de mercado, que deve crescer ainda mais com o crescimento da construção civil, que inclui o segmento de casas populares, e com aumento do poder de compra de móveis pelas classes mais baixas. Desde o início, a Compahia buscou parcerias com fabricantes de móveis que queiram desenvolver uma linha de móveis populares acessíveis e compatíveis com o tamanho das populares. O Portal Moveleiro entrevistou o presidente da Copahar e engenheiro Rafael Greca, para saber do andamento do projeto.

Portal Moveleiro - Como surgiu a idéia de criar uma linha de produção e financiamento de móveis para moradias populares, com medidas compatíveis ao espaço das casas da Companhia e acessíveis ao orçamento das famílias de baixa renda?

Rafael Greca - A idéia é incentivar a indústria moveleira a criar um padrão de móveis adequados ao espaço das casas populares de 40 m² construídas pela Cohapar, proporcionando uma produção em larga escala, o que deve permitir a redução de preços dos móveis. Uma casa de 40 m² pode promover um mercado de até 20 peças de mobiliário, desde que eles sejam adequados e caibam na casa. Nossa idéia é estimular um nicho de mercado importantíssimo, representado pelas quase 600 indústrias moveleiras que existem no Paraná.

Portal Moveleiro - O senhor acredita que as indústrias moveleiras ainda não desenvolveram um nicho de mercado que atende a população carente, que mora em cômodos muito pequenos e não têm condições de comprar móveis planejados?

Rafael Greca - A maioria das indústrias já tem uma linha de montagem seqüencial de medidas inadequadas às casas populares - tipo a Indústria Bartira, que comercializa seus produtos pelas Casas Bahia. É o caso daqueles portentosos sofás de espaldar imenso e bojudos encostos que sempre avançam sobre o vão das portas e os corredores das casas. Precisamos romper o paradigma, e ofertar um mobiliário adequado à realidade social brasileira. Bom, bonito e barato. Não precisa ser mal desenhado para ser popular. As casas da Cohapar - graciosas e funcionais em seus projetos - nos ensinam isso.

A idéia é que nossos fabricantes habilitem-se a este nicho, evitando oferecer móveis desproporcionais aos 40 m² das casas destinadas à classe popular, não só pela Cohapar no PR, mas pelas Cohabs de todo o Brasil. É preciso evitar o mobiliário que fica como um "frango num pires", apertado e atrapalhando a circulação das casas. Até o final de 2008 temos a meta de concluir cerca de 27 mil casas, se todos os financiamentos que montamos estiverem prontos. Multipliquem isso por 20 peças e vejam que tem um nicho de mercado bastante forte.

Portal Moveleiro - No Brasil ainda não existem programas de financiamento de móveis e tivemos conhecimento de que a Cohapar não tem condições de financiar o mobiliário junto com a moradia. Como a família que compra a casa da Companhia pode ter acesso a estes móveis?

Rafael Greca - Não temos condições no momento. Não há ainda nenhum diploma legal que permita o financiamento complementar do mobiliário com a casa popular. Está surgindo no Governo Federal um programa semelhante ao da Argentina, que celebrizou a então senadora Cristina Kirchner, hoje presidente da República, para financiamento de fogões e refrigeradores populares. Porque não provocarmos a extensão para o mobiliário? Acho que o presidente Lula adoraria. Requião certamente veria com entusiasmo uma medida semelhante.

Enquanto isso não acontece, a Cohapar está disposta a comprar o mobiliário de uma casa de 40 m² para cada conjunto habitacional, após um registro de preços a ser feito nos moldes da lei paranaense de licitações. O importante é que tal mobiliário não ultrapasse R$ 3.500,00. Depois da exposição, sortearemos a casa mobiliada entre as famílias, como estímulo ao conforto das medidas adequadas, e ao bom gosto de respeito às famílias. Ninguém é tão pobre que não mereça morar bem, sentar bem, dormir bem. Todos os trabalhadores merecem uma boa cama para o merecido repouso após o dia de trabalho. Vejamos se a indústria moveleira entra neste desafio.

Portal Moveleiro - Atualmente, a população de baixa renda está conseguindo consumir mais móveis. Partindo deste fato, o senhor acredita que desenvolver parcerias junto ao Projeto se tornou um bom investimento para as indústrias moveleiras?

Rafael Greca - Há um inegável nicho de mercado para mobiliário popular adequado às casas populares. No ano de 2007 foram 94.074 habitações de interesse social, ou casas de Cohab, em todo o Brasil, num investimento de R$ 2,39 bilhões. Além disso, o mercado imobiliário popular financiou - em 2007 - 642.315 novas moradias.

O perigo é os fabricantes brasileiros não se entusiasmarem com este nicho e a China descobri-lo, ofertando móveis bons, bonitos e baratos. E nos engolindo na nossa timidez e tibieza. Eu concluo: o Brasil precisa de estímulo ao conforto, de móveis bons, bonitos e baratos, com medidas adequadas, sinal de respeito às famílias pobres. Ninguém é tão pobre que não mereça morar bem, sentar bem, dormir bem. Todos os trabalhadores merecem uma boa cama para o merecido repouso após o dia de trabalho. Procuram-se designers capazes de criar uma virtuosa cadeia produtiva. Inacreditável é que poucos enxerguem a importância de um nicho de mercado que gerou no ano passado mais de 642.315 novas casas.”

Fonte: 

http://sis.sebrae-sc.com.br/sis/pages/MostraNoticiaAssinante.do?metodo=mostraNoticia&idSetor=3&idNoticia=868&mes=0&ano=0

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